1-
Quais suas expectativas ao idealizar e fundar o
clube de ciências?
A ideia
de criar um clube de ciências sempre esteve presente na minha cabeça desde que
me iniciei no magistério. Queria ser capaz de disponibilizar para os meus
alunos algo que não tive enquanto estudante. A minha principal expectativa era
a de criar na escola um espaço no qual professores, alunos e comunidade
pudessem se reunir para discutir a ciência em seus aspectos mais amplos e
diversos.
2-
Quais aspectos te surpreenderam positivamente e
quais aspectos não atenderam suas expectativas?
O que mais
me surpreendeu positivamente foi o fato de ter conseguido trazer à escola,
durante as atividades do clube, pesquisadores renomados de diferentes
instituições, com os quais os alunos dificilmente teriam contato se o clube não
existisse. Outro aspecto importante foi ter conseguido criar, em parceria com o
professor Robson Martins (Artes), o projeto Fossilizarte que, devido às
diversas atividades que fizemos em diferentes instituições, deu visibilidade ao
clube assim como à escola e com o qual fomos selecionados como finalistas para
o Prêmio Shell de Educação Científica de 2017. Dentro daquilo que não atendeu
às minhas expectativas posso citar a não realização de mais projetos, a falta
de autonomia e proatividade por parte dos clubistas bem como a falta de uma
melhor articulação do clube com outros projetos e eventos realizados na escola.
3-
Quais os principais obstáculos enfrentados na
fundação e ao longo do funcionamento do clube?
No meu
entendimento o principal obstáculo (e esse não temos como mudar) é o fato da
escola ser integral e os alunos não terem tempo extra para se dedicar às
atividades do mesmo (não existe contraturno). Um outro obstáculo é que, a
despeito de todo o apoio que recebemos da direção da escola, não temos verba
própria nem patrocínio. Isso dificulta muito a realização de algumas
atividades, em particular as externas, que a meu ver são muito importantes
nesse tipo de trabalho. Outros obstáculos foram a desistência de alguns
professores em participar do clube (bem como de alguns alunos) e também o fato
de alguns clubistas não se demonstrarem proativos, ficando sempre numa posição
de esperar as determinações e não a de buscar soluções ou opções para o
funcionamento do clube.
4-
Quais suas aspirações futuras para o clube?
Não
quero ter muitas aspirações pois existe também a possibilidade de me frustrar.
No entanto, o que mais desejo (falo isso para todos os clubistas até de forma
repetitiva) é que sejamos capazes de produzir mais projetos e que o clube se
torne cada vez mais independente da minha participação. Quero muito ter a
oportunidade de chegar na escola e ser surpreendido por eles dizendo que
convidaram fulano, acertaram uma oficina com sicrano e assim por diante. O
clube não pode ser de uma pessoa só e sim de toda a comunidade escolar.
5-
Como imagina que o clube de ciências pode
contribuir na formação dos alunos e dos licenciandos?
Acho o
clube benéfico para todos. Para os alunos da escola é uma grande oportunidade
para se ter o contato inicial com a ciência, a forma como ela é fundamentada, através
da leitura e discussão de artigos científicos bem como participando de oficinas
e palestras ministradas por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Para
os licenciandos a participação no clube também traz um grande aprendizado por
lhes introduzir no ambiente escolar, palco de sua atuação futura, com uma
dinâmica diferente daquela da abordagem conteudista tradicional. Isso,
certamente, é um grande ganho na formação inicial de um docente.
6-
Como professor, nota que seus alunos clubistas
tiveram alguma mudança de comportamento em sala de aula? Houve alteração no
comprometimento com os estudos?
Não
consigo quantificar isso (ainda) mas é inegável que todos aqueles que
participam do clube estão mudando seu comportamento e seu olhar, não só em
relação aos estudos e à escola propriamente dita mas também em relação à outras
questões envolvendo a nossa sociedade. Percebe-se rapidamente, através das
conversas que estabelecemos, do discurso e da postura deles, que participar do
clube está fazendo sim uma grande diferença em suas vidas.
7-
O clube te trouxe novos olhares sobre aspectos
educacionais ou sociais?
Me
considero um professor (e um ser humano também) que desde sempre procurou estar
envolvido nas discussões à sua volta. Não tenho o perfil de me omitir em nada e
acho que podemos (e devemos) nos envolver em tudo que diga respeito ao nosso
futuro, tanto no plano pessoal quanto no social. Dito isto, percebo que o clube
certamente influenciou (e continua influenciando) no meu pensar e no meu agir.
Até por conta do seu perfil agregador (reunindo várias áreas da ciência) e
democrático, a cada atividade do clube temos sempre algo novo que aprendemos e
que nos serve de lição e inspiração.
8-
Acredita que este é um espaço transformador e
passível de ser implantado em todos os sistemas de escola?
Não só
acredito como estou trabalhando nesse sentido. Minha ideia é levar um clube de
ciências para cada unidade escolar do nosso país. Através deles, poderemos
estreitar esse abismo sócio-cultural em que vivemos. Acredito piamente que um
clube de ciências seja o passaporte através do qual construiremos uma sociedade
mais justa e igualitária.